Arquivo da categoria ‘Biografia’

Reunião Aguardada

Publicado: 01/03/2010 por insanitydsg em Biografia

Geraldo de Barros - Boxe

Geraldo de Barros agora faz parte do acervo Sesc

O Acervo de Artes do Sesc São Paulo recebeu, há dois anos, novas aquisições que enriqueceram ainda mais o conjunto de obras que forma um verdadeiro panorama das artes visuais brasileiras. Entre os trabalhos doados pela família de Geraldo de Barros estão uma cópia de uma das imagens que compuseram a série Fotoformas, de 1950 – uma ampliação feita pelo próprio Geraldo em 1951 –, e o quadro de número 1.038, de 1985, considerado um dos trabalhos mais conhecidos do artista. “Esses são os dois principais destaques do nosso acervo, mas toda a coleção é de extrema importância, dada a relevância do artista no cenário das artes visuais brasileiras”, afirma Juliana Braga, assistente de artes visuais da Gerência de Ação Cultural (Geac) do Sesc São Paulo. “Segundo palavras de sua própria família, com essa doação passamos a ser os detentores do mais expressivo acervo de obras do artista plástico no Brasil.” Fazem parte da doação outras 46 imagens de Fotoformas (foto) e 66 da série Sobras.
Todas essas obras podem ser vistas pelo público na mostra Geraldo de Barros na Coleção Sesc de Artes, cartaz da unidade Santana de 26 de junho a 27 de julho. A escolha do Sesc Santana não foi aleatória, ela encaixa-se na filosofia de democratização da cultura que pauta todas as ações da instituição. “Queremos levar à comunidade moradora da Zona Norte uma proposta artística já bastante conhecida no eixo central”, comenta Juliana Braga. “Além disso, a equipe da unidade, que é a mais recente da cidade, vem realizando um interessante trabalho de oficinas artísticas, em especial fotográficas. O diálogo com a obra de Geraldo, portanto, mostrou-se eloqüente”, afirma. Essa foi a primeira vez que a íntegra dos trabalhos doados foi levada a público. Parte deles já havia sido exposta, em 2007, na mostra Recortar e Colar – CTRL_C + CTRL_V, realizada pelo Sesc Pompéia.

Forma de expressão

Publicado: 01/03/2010 por insanitydsg em Biografia

Geraldo de Barros - HOBJETO.

O design também atraiu a atenção do artista

Em 1954, Geraldo começa a explorar mais uma faceta sua: a de designer. Em sociedade com o frei João Batista, criou o escritório de design de objetos e móveis Unilabor. Em conformidade com suas idéias inspiradas no socialismo, a produção tinha caráter colaborativo. O livro Design Brasileiro: Quem Fez, Quem Faz (Editora Senac, 2005), de Ethel Leon, relata que, embora a função específica de Geraldo fosse o design das peças, “o projeto e a construção dos móveis eram discutidos por todos os integrantes do grupo, em um coletivo que retomou idéias utópicas do século 19”. No final dos anos 1950, o então inovador modelo de gestão causou ao paulista um de seus maiores dissabores: em meio aos problemas econômicos sofridos pela empresa, foi dispensado por seus próprios funcionários. Mais tarde, a firma viria à falência. A saída da Unilabor não significou, no entanto, sua saída do ramo. Em 1958, fundou, ao lado dos designers Rubem Martins e Alexandre Wollner, a FormInform, empresa de criação de marcas e logotipos. Seis anos depois, criava também a Hobjeto Indústria de Móveis, em parceria com o marceneiro Antônio Bioni. Inaugurada em tempos de crise na economia brasileira, a firma sofreu dificuldades financeiras logo no início, já que seus clientes desejavam peças exclusivas, que eram mais demoradas e caras para construir. A fim de não depender apenas dessa demanda e manter seus empregados ocupados, Barros passou a criar mesas de pequeno porte e carrinhos de chá, que eram mais baratos e podiam ser feitos em escala ampla. A primeira loja da Hobjeto foi aberta em 1966 em São Paulo. Até hoje na ativa, com outros proprietários, a empresa foi uma das primeiras fabricantes de móveis em escala industrial no Brasil, graças a seu modelo baseado em módulos pré-fabricados.

Coerência

Publicado: 01/03/2010 por insanitydsg em Biografia

Ratificando sua inclinação para a sociedade e o colaborativo, ingressou em entidades como o Sindicato dos Artistas Plásticos e a Associação Paulista de Belas Artes. Até que, em 1966, Geraldo de Barros criou outra agremiação: o Grupo Rex Time, com Leirner e o artista plástico Wesley Duke Lee, entre outras figuras. Esse momento de sua trajetória foi marcado pelo furor do happening (acontecimento, em inglês), uma forma de arte que mistura apelos visuais com postura teatral, só que sem texto.
Em 1979, Geraldo sofreu a primeira das isquemias cerebrais que o deixaram com dificuldades de fala e movimentação até sua morte, em 17 de abril de 1998, aos 75 anos. Nesse período, ele abandonou o trabalho na Hobjeto, que estava com sérias dificuldades financeiras, e, na década de 1980, voltou à fotografia, produzindo uma nova série a partir de imagens de férias e viagens com familiares e amigos. “Ele não podia sair de casa para fotografar”, lembra a filha Lenora. “Então, com uma assistente (Ana Moraes), trabalhou com colagens simultâneas de positivo e negativo. Ou seja, até o fim da vida, foi coerente com o experimentalismo.” O trabalho resultou em Sobras, série premiada em 2006 pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e que pode ser conferida no livro Sobras + Fotoformas (Cosac Naify, 2006).

Outras viagens

Publicado: 01/03/2010 por insanitydsg em Biografia

Geraldo de Barros

Fotoformas garantiu a Geraldo de Barros, além de reconhecimento, uma bolsa do governo francês para estudar em Paris. Sem hesitar, pediu uma licença do Banco do Brasil e partiu para a Europa, onde se cercou de artistas renomados, como o suíço Max Bill, o alemão Otl Aicher e o francês François Morellet. De volta ao Brasil, no fim de 1951, expôs na 1ª Bienal Internacional de São Paulo e ganhou o concurso de ilustrações realizado como parte das comemorações do 4º centenário da cidade. O desenho premiado foi Uma Cidade a Conquistar. Na mesma época, casou-se com Electra Delduque e ajudou a fundar, com outros artistas concretistas, o Grupo Ruptura, cujas intenções foram explicitadas em um manifesto divulgado em 1952, durante sua primeira exposição, no MAM/SP. De acordo com o texto, cuja íntegra está disponível no site do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da Universidade de São Paulo (USP), o Grupo Ruptura se opunha a toda arte que havia sido feita no Brasil até então – tanto figurativa quanto abstrata. O movimento concreto queria ampliar a esfera de atuação das artes, pensando e melhorando o ambiente urbano, modernizando o meio cultural brasileiro e, principalmente, socializando as artes e a cultura.
Mesmo com o envolvimento com o design, em meados dos anos de 1950, Geraldo nunca abandonou as artes plásticas. Em paralelo à administração da Hobjeto [veja boxe Forma de expressão], o trabalho como pintor foi retomado, na década de 1960, dessa vez dividindo um ateliê com o artista plástico Nelson Leirner. O alvo agora era a pop art, que tinha o norte-americano Andy Warhol como um dos expoentes, e o meio foi a produção de outdoors. “Quase todos os artistas concretos dos anos de 1950 voltaram-se para esse estilo na década seguinte”, conta Heloísa. “Essa passagem está relacionada com a percepção de que o caráter didático da arte concreta não tinha mais eficácia numa sociedade regida pela cultura de massas. Nos anos de 1960, eles investiram na mídia e na publicidade, pois são essas as imagens que compõem a cultura visual contemporânea.” Nos anos de 1970, investiu novamente no construtivismo geométrico, fazendo quadros em fórmica sobre madeira, com os quais participou da 21ª Bienal de São Paulo, em 1991.

Fotografia no museu

Publicado: 01/03/2010 por insanitydsg em Biografia

Na virada dos anos de 1940 para 1950, Geraldo era freqüentador assíduo de locais importantes para a difusão e a produção das artes plásticas em São Paulo. Entre eles, o Foto Cine Clube Bandeirantes (confira no Em Cartaz exposição no Sesc Vila Mariana), na época o principal espaço da fotografia na cidade, de onde foi praticamente expulso por suas posturas inovadoras. “Ele sofreu muito lá”, revela Fabiana de Barros, também filha do artista. “Poucos entendiam o que ele estava procurando. A maioria chegou a agredi-lo, dizendo que era maluco.” Outros locais onde sempre podia ser visto eram os então novíssimos Museu de Arte de São Paulo (Masp), inaugurado em 1947, e Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), de 1949. Também freqüentava a Biblioteca Municipal de São Paulo – hoje Biblioteca Mário de Andrade –, além de ser presença constante na casa do crítico de arte e amigo Mário Pedrosa, que exerceu grande influência teórica, como a simpatia pelo socialismo. “Quando meu pai conheceu Mário Pedrosa, ele [Pedrosa] era meio que um guru de sua turma”, conta Lenora. No ambiente de museus e bibliotecas, o artista tomou contato com temas que serviram como base para o movimento concretista, ao qual esteve ligado ao longo de quase toda a vida, e com conceitos como os da abstração, a teoria de Gestalt (surgida na Alemanha na virada entre os séculos 19 e 20, e que procura desvendar os mecanismos da percepção humana) e os preceitos da escola alemã Bauhaus (meca do design na época, também originária da Alemanha). Foi quando também conheceu a obra do suíço-alemão Paul Klee, de quem incorporou, além de teorias artísticas, a idéia de produzir trabalhos com características de traços infantis.
Tais influências aparecem fortemente na série Fotoformas, conjunto de trabalhos exposto no Masp, em 1950. “Foi uma das primeiras exposições de fotografia realizadas em museu”, revela Heloísa. “Ela apresentou a abstração em uma época em que o assunto era motivo de polêmica entre artistas e críticos. Além disso, é uma das primeiras exposições de um artista brasileiro que se alinhava ao construtivismo, vertente da arte moderna que teve grande importância no Brasil nos anos de 1950.”

Fonte: Portal SESCSP

Ícone do movimento concretista

Publicado: 01/03/2010 por insanitydsg em Biografia

O artista plástico Geraldo de Barros construiu uma vasta obra, marcada pela diversidade de meios de expressão

Artista plástico inovador, Geraldo de Barros atuou também como designer e fotógrafo de talento ímpar. Dez anos após sua morte, esse ícone do movimento concretista paulista é lembrado como um dos personagens mais inquietos da história das artes plásticas no Brasil. Nascido em 27 de fevereiro de 1923, em Chavantes, interior de São Paulo, trabalhou com diversas linguagens visuais para dar vazão a experimentações, fortemente marcadas por uma expressividade voltada às massas. A carreira de Geraldo teve início em 1945, quando passou a ter aulas com os artistas Clóvis Graciano, Colette Pujol e Yoshiya Takaoka, já morando na capital paulista. Nessa época, era bancário no Banco do Brasil, profissão que seguiu em paralelo às artes plásticas até se aposentar. “Papai sempre dizia que era importante ter um emprego fixo para que pudesse fazer suas coisas com liberdade”, conta a artista plástica Lenora de Barros, filha do mestre. “Naquela época [décadas de 1940 e 1950] não havia mercado para a arte.”
Durante os estudos com Takaoka, conheceu outros artistas, como o fotógrafo Athayde de Barros, com quem fundou, em 1946, – mesmo ano em que fez, no Salão Nacional de Belas Artes de São Paulo, sua primeira exposição –, o Grupo 15. Nos finais de semana, a principal atividade do grupo era afastar-se da cidade em busca de motivos para seus trabalhos. “De modo geral, estavam interessados no pós-impressionismo, sobretudo no expressionismo”, esclarece a historiadora de arte Heloísa Espada. “E pintavam temas prosaicos, comuns na pintura brasileira dos anos de 1940, como paisagens rurais, objetos pessoais, retratos e auto-retratos”. Nas reuniões com o 15, Geraldo iniciou sua paixão pela fotografia, influenciado por Athayde, que aproveitava os passeios para clicar times de futebol de várzea. Entusiasmado pelas possibilidades artísticas que via no registro fotográfico, logo comprou uma Rolleiflex 1939 e passou a acompanhar o amigo. “Sempre trabalhei com essa máquina, que me possibilita duplas ou mais exposições e permite compor quando fotógrafo”, afirmou no documentário biográfico Sobras em Obras (1998), de Michel Favre.
Ainda no final da década de 1940, iniciou as intervenções em fotos – desenhos, pinturas, cortes e sobreposições – que se tornariam uma de suas marcas registradas. Heloísa Espada explica que seu método consistia em trabalhar “como se o filme fosse uma matriz de gravura”. “Ele não estava preocupado com a verossimilhança”, diz. “Tampouco em respeitar as especificidades do meio fotográfico.”